quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Realmente nada



Um belo dia ela acordou, e assim sem mais nem menos, nada mais existia.  Havia sua casa e nada mais. Suas coisas e nenhuma mais. Ela, somente ela e mais ninguém. Milhas e milhas de solidão.

A paisagem que existia além da sua janela, que ela nunca reparou existir, agora realmente não existia, somente era possível observar quilômetros e quilômetros de nada.

Sua casa humilde e que sempre lhe desagradou agora era única. Ela não podia mais reclamar dá pintura falha comparada com a casa da esquina. Ela não podia mais reclamar que tinha de lavar roupa na mão, pois no mundo nem roupa mais existia e nem motivo para usar havia. O pudor não existia mais, pois era ela é nada mais.

Ela não tinha marido, reclamava de ser sozinha, reclamava dos amigos que viviam lhe enchendo o saco, odiava visitas, mas a sensação de estar sozinha, somente ela e o nada, era esquisito. Tanto desejara estar assim que agora era verdade. E como era ruim a verdade de estar sozinho...

Era ruim ser única, era ruim ter desejado sempre aquilo, era ruim viver aquilo, era ruim, ela talvez se sentisse ruim... Mas como saber? Se nem alguém para comparação tinha mais. Não tinha como falar, nem a voz fazia sentido, enxergar, sentir, cheirar, paladar, nenhum dos sentidos tinha sentido. Era um mundo sem razão...

E ela sempre buscou ter razão de que o mundo era uma merda e somente ela bastava. E agora era insuportável a ideia de ser só. A solidão era um labirinto sem saída. Era estar presa numa liberdade sem fim. Ela podia fazer o que quisesse, não havia mais regras, que ela sempre odiou, não havia mais julgamentos, ela era o certo e o errado.

Era ela o agora, o futuro, se tornaria o passado, e seria novamente o presente. Ela era tudo como sempre quis. Era começo, meio e fim. Tudo isso em relação ao nada...

Nada, nada, nada, nada e nada. Infinitas vezes nada e nada mais faziam sentido... Ela começou a ter medo. Mas não havia nada a temer. Começou a chorar, sem motivo. Começou a ter saudade do que sempre quis longe, mas não havia nada a saudar. Queria comparação, barulho, trânsito, ser incomodada, ser provocada... Queria ser apenas mais uma e não mais a única.

Ás cinco para seis da manhã o relógio despertou, tomou banho e se trocou. Estava chovendo e as poças na rua esburacada em frente à sua casa incomodavam-na. Olhou para trás e a pintura da casa continuava horrível. O ponto lotado era o primeiro obstáculo do dia, o metrô lotado e que a cada estação aglomerava pessoas como uma sensação de enlatar as pessoas, piorava a situação. O itinerário do dia era atender milhares de clientes, sair do trabalho, encarar novamente o trânsito caótico, ir à faculdade e chegar em casa a meia noite e meia.   Mal comer, mal dormir... Cansaço, estresse... Pessoas, mais pessoas... Barulho e incomodo! Então pensou:

- Como é bom não ser sozinha! Como é bom! Muito bom! Rá Rá Rá Rá ...

Gargalhou loucamente o fato de existir o próximo!  Tudo nunca havia feito tanto sentido!

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