Um belo dia ela acordou, e assim
sem mais nem menos, nada mais existia.
Havia sua casa e nada mais. Suas coisas e nenhuma mais. Ela, somente ela
e mais ninguém. Milhas e milhas de solidão.
A paisagem que existia além da
sua janela, que ela nunca reparou existir, agora realmente não existia, somente
era possível observar quilômetros e quilômetros de nada.
Sua casa humilde e que sempre lhe
desagradou agora era única. Ela não podia mais reclamar dá pintura falha
comparada com a casa da esquina. Ela não podia mais reclamar que tinha de lavar
roupa na mão, pois no mundo nem roupa mais existia e nem motivo para usar
havia. O pudor não existia mais, pois era ela é nada mais.
Ela não tinha marido, reclamava
de ser sozinha, reclamava dos amigos que viviam lhe enchendo o saco, odiava
visitas, mas a sensação de estar sozinha, somente ela e o nada, era esquisito.
Tanto desejara estar assim que agora era verdade. E como era ruim a verdade de
estar sozinho...
Era ruim ser única, era ruim ter
desejado sempre aquilo, era ruim viver aquilo, era ruim, ela talvez se sentisse
ruim... Mas como saber? Se nem alguém para comparação tinha mais. Não tinha
como falar, nem a voz fazia sentido, enxergar, sentir, cheirar, paladar, nenhum
dos sentidos tinha sentido. Era um mundo sem razão...
E ela sempre buscou ter razão de
que o mundo era uma merda e somente ela bastava. E agora era insuportável a ideia
de ser só. A solidão era um labirinto sem saída. Era estar presa numa liberdade
sem fim. Ela podia fazer o que quisesse, não havia mais regras, que ela sempre
odiou, não havia mais julgamentos, ela era o certo e o errado.
Era ela o agora, o futuro, se
tornaria o passado, e seria novamente o presente. Ela era tudo como sempre
quis. Era começo, meio e fim. Tudo isso em relação ao nada...
Nada, nada, nada, nada e nada. Infinitas
vezes nada e nada mais faziam sentido... Ela começou a ter medo. Mas não havia
nada a temer. Começou a chorar, sem motivo. Começou a ter saudade do que sempre
quis longe, mas não havia nada a saudar. Queria comparação, barulho, trânsito,
ser incomodada, ser provocada... Queria ser apenas mais uma e não mais a única.
Ás cinco para seis da manhã o relógio
despertou, tomou banho e se trocou. Estava chovendo e as poças na rua
esburacada em frente à sua casa incomodavam-na. Olhou para trás e a pintura da
casa continuava horrível. O ponto lotado era o primeiro obstáculo do dia, o
metrô lotado e que a cada estação aglomerava pessoas como uma sensação de enlatar
as pessoas, piorava a situação. O itinerário do dia era atender milhares de
clientes, sair do trabalho, encarar novamente o trânsito caótico, ir à
faculdade e chegar em casa a meia noite e meia.
Mal comer, mal dormir... Cansaço,
estresse... Pessoas, mais pessoas... Barulho e incomodo! Então pensou:
- Como é bom não ser sozinha!
Como é bom! Muito bom! Rá Rá Rá Rá ...
Gargalhou loucamente o fato de
existir o próximo! Tudo nunca havia
feito tanto sentido!
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