segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O som do siêncio


Era uma noite qualquer, pelo menos, parecia ser. Mais um dia de curtição, bebidas, paqueras, drogas. Mais uma noite, e aqueles jovens tinha o direito de fazer o que quiser. Sim, tinha o direito de se drogarem, ficarem bêbados, transarem com quem quiserem. Mas ninguém tinha o direito de tirar a vida deles. Ninguém... mesmo!

Como diria o outro: pecado é roubar e seus derivados. Quantos roubos fizeram aquelas pessoas, roubaram sorrisos, momentos, lágrimas, futuro, roubarem a vida e tudo que ela pode oferecer.

E não venha me dizer que eles morreram naquela noite. Não, eles morreram muito antes, quando a fiscalização liberou as irregularidades da casa noturna, quando o dono pensava em dinheiro, não em segurança. Morrem muito tempo antes e, ao mesmo tempo, morreram para outros não morrem. São heróis, desde que as autoridades tomem as devidas providencias.

Dizem que os poetas eternizam as alegrias e tristezas em letras. Em versos que escorrem sorrisos e lágrimas em cada palavra. Presto uma homenagem a cada um daqueles jovens, eu queria mesmo escrever o silêncio e que as pessoas conseguissem ler isso, mas ainda não consigo:

O som do silêncio

Nossa quanta gente,
Não podemos nem andar.
Quantas gurias lindas,
Quantos sonhos.
Todos juntos,
Grudados.
Na festa dos “aglomerados”.

E o som que embalava a festa,
Soava ao ouvidos, sem a menor pretensão,
Era apenas uma festa, e mais,
Seria a última. O ultimo refrão:


“Bota de a pá nessa vanera gaiteiro 
Que a gurizada é fandangueira e vem pra ouvir o som 
Bota de a pá nessa vanera gaiteiro 
Que a mulherada é de primeira e o balanço é muito bom”.

O grupo era bom, era quente.
De repente do palco aonde vinha à alegria,
Veio ainda mais calor,
Veio fogos.

E com o fogo veio a dor,
Aquele céu de sonhos,
O futuro, os futuros,
De cada um daqueles jovens entrou em chamas.

E com a chama veio um neblina imensa,
Que tapou a visão e os cegou.
Muitos nunca mais voltariam a ver.

E não viram, nem ouviram.
Não ouviram os gritos que substituíram as músicas fandangueiras.
Não ouviram os celulares que tocavam junto aos corpos,
Corpos que o coração já não tocava mais.

Havia apenas uma saída.
Apenas uma escapatória do labirinto.
Apenas uma chance,
Apenas pena. Para todos que corriam e todas que lutavam,
Todos que respiravam, todos que sufocavam, todos que morriam. Todos que morreriam.

Morrem jovens, morrem sonhos,
Acabaram famílias.
Apagaram o fogo e também apagaram vidas.
Não existe mais fumaça,
Mas agora muitas vidas já estão embaçadas para sempre.

E para sempre Santa Maria orai por eles,
Pois para sempre Santa Maria será lembrada por eles.
Os sonhos se acabaram...
Para outros poderem sonhar em paz.
Que assim seja!

Como será o infinito o silêncio de cada voz que ali  calaram.