Bem Mal
O sol estala na grande metrópole brasileira.
Os paulistanos sofrem com a sensação térmica de 40° graus. Muitos com pés
diretamente no asfalto vão sobrevivendo, porque é quase impossível viver.
E muitos vão morrendo, pois
parece que assim tem que ser. Naldinho, 13 anos, morador do Morro do Piolho,
Zona norte da cidade de São Paulo. O
calor infernal, não deixa que ele vá dormir cedo, nos dois cômodos da casa,
apenas uma janela, a rua soa como um convite tentador. O relógio velho do camelô
no pulso do garoto marca 23 horas e 11 minutos, a madrugada se aproxima, mas a
escuridão já domina todo o céu do subúrbio. E logo dominaria as ruas.
Seis garotos mais velhos. Zé,
Dudu, Marquinho, Ferrugem, Doriva e Magal conversam sobre carros e motos, no
paredão de frente da casa de Naldinho. Obra do destino, o papo termina com o
barulho de duas motos CB 300, e quatro indivíduos encapuzados, um já logo
aborda:
- Vai caralho, encosta, encosta! Vira
para a parede, mão na cabeça e perna aberta... Vai filha da puta! Em seguida o
tiro para o alto anunciava o fim do papo e da vida dos meninos.
Um ainda tenta dialogar com os
exterminadores:
- Senhor, senhor, somos
trabalhadores!
Mas o tapa na cabeça e o soco no
estomago acabam com o diálogo. Em segundos, os quatros indivíduos exterminam os
seis rapazes. Todos com dois tiros na parte de trás da cabeça a queima-roupa.
Naldinho se abala, não muito,
isso já é algo que esta na rotina de quem mora na favela, tem que estar
esperto, para não ser o próximo. Após a longa demora, chega a policia ao local,
ambulância nem aparece, os dois que ainda respiravam, deixam de respirar com as
duas voltas a 10 km por hora jogados no banco de trás da viatura.
- Naldinho, entra já são 3 da
manhã!
Exclama a mãe do menino com
naturalidade com o fato ocorrido. No dia seguinte ao voltar a pé da escola, vê
o corpo de um Policial Militar de folga estendido no chão. Enquanto fazia exercícios
físicos foi alvejado por dois meliantes que pararam uma moto, estavam
fortemente armados e não deram chance para o rapaz de 25 anos, que deixa a
filha de apenas três só com a mãe.
Um amigo de Naldinho exclama:
- É policial, tem que morrer
mesmo! Com um olhar de ódio e um tom de voz que carregado de rancor leva um
passado de violência em cada letra.
Naldinho ameniza:
- Ih Jão, o cara tem família também,
não é assim!
- Mas e ontem Naldinho, os moleques
tiveram chance? Eles não querem nem saber...
- É verdade! Nem eram envolvidos
em nada!
- Então, podia ser eu ou você!
-É policia tem que morrer!
Finaliza Naldinho já corrompido e submetido a fortalecer uma ideologia cada vez
mais forte.
Nesse pequeno diálogo cheio de
exclamações, um relato surreal de uma realidade cada vez mais triste, das ruas
cinzentas da capital paulista que transbordam a insegurança, da luta da policia
contra o crime organizado, da luta paralela do inocentes contra o crime
organizado, que roubam e impõe o medo, da luta do inocente para não morrer nas
mãos de exterminadores vingativos, da luta do inocente por paz. Daqueles que
querem viver e cansaram de apenas sobreviver.
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