Mal tinha acordado e com um
esforço bruto abri os olhos para ler uma mensagem, a notícia da morte de Hebe Camargo,
a princípio não impressionou, mas era como se houvesse morrido alguém próximo.
Essa proximidade foi aumentando
de uma forma incontrolável, durante todo o dia as matérias e homenagens feitas
a Rainha da Televisão Brasileira, algumas sensacionalista, mas em momentos como
esse até o julgamento deve ficar de lado. No fim da tarde fiz o reflexo geral
dos acontecimentos e cheguei à conclusão: A minha Hebe morreu. Ela era de todo
o público. Um momento egoísta e de imensa tristeza.
Embarquei no metrô, isso já era
no inicio da noite dominical paulista, a linha vermelha sentido
Corinthians-Itaquera estava cheia. E o metrô estava tão lerdo que poderia ser
chamado de ‘melimetrô’. Entre jovens e adolescentes, senhoras e senhores, casais
de todos os tipos, uma senhora pedinte embarcou na estação Bresser Mooca.
Nas televisões do metrô davam
notícias sobre a morte da apresentadora, como um combinado a senhora começou a implorar por doações e na tela apareceu uma nota sobre a solidariedade que
Hebe tinha. Por alguns segundos meus
pensamentos pararam, não havia mais nada no vagão, além da senhora e de Hebe na
TV. Aos gritos a senhora clamava:
- Por ”formidão” um trocado, um
pedaço de comida. Por favor, eu estou com fome! A senhora repetiu isso em vários
tons e ordens a suplica, lágrimas escorriam e dominavam o seu rosto.
A senhora ajoelhou-se e implorou,
aquilo foi como estalo aos ouvidos, ao olhar ao redor um grupo de jovens
imbecis riam. Busquei entender o que pensavam, alias, se pensavam. Vários
religiosos olhavam a bíblia e não deram um olhar de consolo. Ninguém ajudou,
pelo menos naquele vagão. Nem eu.
Desembarquei na estação Penha e não me
conformei por não ter ajudado. Sou contra o estimulo dessa prática, mas era tão
sincero, a senhora se prestava ao pior estado do ser humano de conseguir as
coisas por dó. E eu infelizmente senti dó dela.
Eu queria dar. Dar um grito alto
nos ouvidos da Presidente, dos senadores, vereadores, deputados, governadores e
prefeitos. Gritar essa desigualdade, ou melhor, essa falta de humanidade.
Gritar sem parar alternativas, leis, trabalhos para dar dignidade à vida dessas
pessoas. Gostaria de mandar as pessoas que ganham belos salários para cuidar do
povo: Ir tomar no cú! Pois poderia ser a vó, a mãe ou qualquer pessoa ali. Mas isso
só acontece com os outros! Deixa estar. E eles não olham para o povo.
A Rainha da Televisão brasileira
durante cinquenta anos falou e protestou de assuntos semelhantes. Foi à voz do povo.
Pessoas Hebe Camargo merece 1 minuto de silêncio seguido de 1 hora de
aplausos. E os dirigentes do país merecem 1 hora de vaias e o resto da vida em
silêncio!
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