segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Hebe e a Mendiga



Mal tinha acordado e com um esforço bruto abri os olhos para ler uma mensagem, a notícia da morte de Hebe Camargo, a princípio não impressionou, mas era como se houvesse morrido alguém próximo. 

Essa proximidade foi aumentando de uma forma incontrolável, durante todo o dia as matérias e homenagens feitas a Rainha da Televisão Brasileira, algumas sensacionalista, mas em momentos como esse até o julgamento deve ficar de lado. No fim da tarde fiz o reflexo geral dos acontecimentos e cheguei à conclusão: A minha Hebe morreu. Ela era de todo o público. Um momento egoísta e de imensa tristeza.

Embarquei no metrô, isso já era no inicio da noite dominical paulista, a linha vermelha sentido Corinthians-Itaquera estava cheia. E o metrô estava tão lerdo que poderia ser chamado de ‘melimetrô’. Entre jovens e adolescentes, senhoras e senhores, casais de todos os tipos, uma senhora pedinte embarcou na estação Bresser Mooca.
 
Nas televisões do metrô davam notícias sobre a morte da apresentadora, como um combinado a senhora começou a implorar  por doações e na tela apareceu uma nota sobre a solidariedade que Hebe tinha.  Por alguns segundos meus pensamentos pararam, não havia mais nada no vagão, além da senhora e de Hebe na TV. Aos gritos a senhora clamava:

- Por ”formidão” um trocado, um pedaço de comida. Por favor, eu estou com fome! A senhora repetiu isso em vários tons e ordens a suplica, lágrimas escorriam e dominavam o seu rosto. 

A senhora ajoelhou-se e implorou, aquilo foi como estalo aos ouvidos, ao olhar ao redor um grupo de jovens imbecis riam. Busquei entender o que pensavam, alias, se pensavam. Vários religiosos olhavam a bíblia e não deram um olhar de consolo. Ninguém ajudou, pelo menos naquele vagão. Nem eu.

 Desembarquei na estação Penha e não me conformei por não ter ajudado. Sou contra o estimulo dessa prática, mas era tão sincero, a senhora se prestava ao pior estado do ser humano de conseguir as coisas por dó. E eu infelizmente senti dó dela. 

Eu queria dar. Dar um grito alto nos ouvidos da Presidente, dos senadores, vereadores, deputados, governadores e prefeitos. Gritar essa desigualdade, ou melhor, essa falta de humanidade. Gritar sem parar alternativas, leis, trabalhos para dar dignidade à vida dessas pessoas. Gostaria de mandar as pessoas que ganham belos salários para cuidar do povo: Ir tomar no cú! Pois poderia ser a vó, a mãe ou qualquer pessoa ali. Mas isso só acontece com os outros! Deixa estar. E eles não olham para o povo.

A Rainha da Televisão brasileira durante cinquenta anos falou e protestou de assuntos semelhantes. Foi à voz do povo. Pessoas Hebe Camargo merece 1 minuto de silêncio seguido de 1 hora de aplausos. E os dirigentes do país merecem 1 hora de vaias e o resto da vida em silêncio!

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