terça-feira, 25 de junho de 2013

Chatito e Senador Miguelito em: Os Cinco Pactos

Chatito um menininho, de cabelos enroladinhos, um sorriso bem branquinho e dentes tortinhos. Negro... Me perdoem, quero dizer afrodescendente, para os burocráticos.

Senador Miguelito, um homem perto de completar meio século. Cabelos grisalhos, uma baita barriga. Terno e gravata, carros e mamata.

O menino gosta de perguntar e o Senador enrolar.

Chatito: Senador, a Presidenta disse que o Brasil já tá maduro para avançar e mostrou que não quer ficar parado no lugar. Mas o certo não seria dizer que estamos atrasados e precisamos nos estruturar?

Miguelito: Menino, que atrasado?! Estamos bem na frente. O Helinho tá na liderança da fórmula Indy. Estamos classificados na Copa das Confederações em primeiro do grupo e a bolsa família é um sucesso. Brasillllllll!

Chatito: Mas, Senador, e os Cinco Pactos, vão mesmo acontecer, ou é conversa de reeleição?

Miguelito: Ora, claro que vão. Um aumento para os políticos fortalece a economia. Uma reforminha política que fortaleça a classe, aí acabamos com corrupção, com o PEC 37, e o povo ainda quer protestar contra. Traremos médicos estrangeiros e ajudaremos a diminuir a taxa de desemprego em outros países, isso é solidariedade. Transporte bom e barato, mais uns km de metrô e ainda vamos deixar 100% dos royalties da exploração de petróleo para Educação, claro, da graninha que não desviar... ops, tudo pra educação.

Chatito: Nossa quanta coisa. Mas eu sempre pensei que isso era tudo obrigação do governo: Tentar controlar e manter uma economia sólida. Não cometer corrupção. E era um direito do cidadão ter educação, saúde e transporte de qualidade. Pelos impostos que pagamos era o mínimo né!

Miguelito: A novela das nove tá boa viu? Pessoal da Rede Globo manda bem.

Chatito: E essa reforma política, Senador? Não seria mais correto dizer que vamos começar uma Democracia? Pois ate agora não tivemos.

Miguelito: Oh, menino, quando você fizer 16 anos você pode até votar. Com 18 já é obrigado. Viva a República democrática do Brasil!

Chatito: Viva! Viva! Eu não entendo isso... Não parece muito certo, mas...

Miguelito: Seria bem pior se o PSDB estivesse no Governo...


Chatito: Credo! Aí Senador, depois dessa vou embora....

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Rabugento e o Jornal de amanhã

Seu Rabugento, um senhor de bigode completo, olhos fundos, daqueles que as olheiras não saem e o qual você aposta que o sono não vem. Mais o menos assim, dormi pouco, mas come muito. Daí vem à barriga que dá gosto. Ainda mais, no 1,68 cm, do velhote sabichão. A boina com o brasão da lusa demonstra as raízes. A camisa social com o colete, a calça social com a bota de camurça, o lenço no bolso e olhar furioso. De todas as características e detalhes  a rabugentisse do aposentado é de encher alguns olhos e arranca lágrimas de outros.

A cada dois passos pelas ruas de Santana uma erguida nas calças. A cada esquina atingida, uma saudação e uma resposta atravessada:

- Bom dia “Seu Rabugento”. Diz o Manoel do açougue.

- Bom d... Quase um surro responde o velhote.

- Já tá acordado? Há essas horas.

- Não Manoel. Eu sou sonambulo, ora! Emendou com delicadeza.

E assim, como um cachorro vira-lata, em cada rua uma surpresa, uma farpa, um caso com a rabugice. Só que aqui a briga não é por comida é pela tolerância que não existe.
Seu Rabugento adentra a banca de jornal com uma enorme saudade de ler aquele monte de letras em tinta. Ricardo o jornaleiro todo atencioso, aborda o aposentado.

- Bom dia, Seu Rabugento, vai levar umas cruzadinhas? Ou um caça-palavras hoje?

- Quero um jornal.

- De quando?

- Ora essa, filho de uma... De hoje, ora.

- Calma, Seu Rabugento. Os jornais acabarão hoje, tem gente comprando o de ontem para guardar.

- Como assim, gajo?

- Acabando...

-Acabando, igual sua mãe acabou ao parir esse cabeção. Dá logo o de hoje mesmo.

O Rabugento paga pelo jornal e o jornaleiro faz sinal com as mãos de escorraço, para o velhote ir logo. Ele vai, adentra a praça, mal cumprimenta os amigos aposentado. Abre o jornal e a primeira notícia é:

“Amanhã não haverá mais jornal.
Fim dos jornais impressos: A tecnologia ganha do papel.
O tradicional perde para a modernidade. Tecnólogos desenvolvem E-book com cheiro de tinta, barulho das páginas amaçando ao troca-las e atalho para recortar e guarda reportagem de recordação.”

- Tolice, ora, ora, ora. Até o sinal sumir, o aparelho travar e isso tudo se um dia o pobre puder comprar. Esbraveja o velhote vermelho de tão furioso.

Vai à página de negócio e logo toma um justo: “Governo privatiza o próprio governo”.
- Ora, mas eles só avisaram isso agora? Um dia antes de não ter mais notícia, esses passarinhos.

Na parte de empregos: “Homem procura: uma mulher com dois filhos, para dar entrada à bolsa família”.

-Vagabundo é o que mais tem. Esse povo da estrela não fiscaliza nada. Expressa  ao levantar as mãos para o céu.

No editorial de política: “Eleições ano X: Madame General versus O Vampiro.”

- Quem ficará com a maior fatia do bolo: A falsa esquerda ou o pássaro vendedor. Aí não importa o FMI e o Banco Central no fim agradecem. Ora, ora, ora. Resmunga o velhote.

Ultima página do jornal: “Obrigado por dividir esses longos anos com a gente e tantas verdades e notícias imparciais.”.

O Rabugento caí na gargalhada joga o jornal pra cima e diz:

-Com esse final. Sabia que era piada. Imparcial? Verdade? Aí, aí, aí o que papai Antônio diria, ora, pois. Amanhã cedo compro outro jornal.









segunda-feira, 3 de junho de 2013

A divina e os forrozeiros

As três “pancadas” de Molière soam como de costume e não mais que , de repente, as cortinas abrem, ou, são os olhos que abrem para não fecharem mais.  A turma de Lampião e Lancelote nos embalam com rimas frescas, texto gostoso e envolvente.

Um encontro de culturas, uma luta, uma troca, um maracatu, um baião, um forró.  Sim, a música do cangaço faz até o guerreiro do Rei Artur largar a excalibur e cair no xote.
O resto é sorte de quem for ao teatro SESI de quinta a domingo presenciar e encantar-se com “Lampião e Lancelote” de Fernando Vilela, direção de Debora Dubois, direção musical de Zeca Baleiro.



Aí quando as cortinas fecharem, seus olhos estarão brilhando, você pode caminhar dançando um xote até a Rua Augusta e não parar de dançar. O documentário “Elena – O filme” vai te convidar para dançar, sentado. Sorrir, de boca fechada. Chorar, sem lágrimas. Pois a trama te envolve e o drama te consome, as emoções transbordam na alma. Rosto e olhos ficam intactos presos a Sétima Arte.

Elena vem como um vulcão e te toma. Você se apaixona e enquanto ela dança com a lua, você dança com ela, assim à distância, mas colado no cangote e não mais que, de repente, ela se vai.  Aí pedimos para ela voltar, mas ela nunca se foi. Ela abriu mão de ser interprete para ser personagem.  Não quis ser grão de areia para brilhar no céu como estrela.

Elena é daquelas que nunca irão morrer. Não é uma flor, é uma planta e dela várias brotarão. Assim como brotará, em você, o desejo de valsar com Elena, procurar por ela, se perder por ela, achar muitos sentidos com ela. Elena – O filme, de Pietra Costa.

Porque Elena está dançando com a lua e eu com ela até agora.