Jão, vai votar!
A manhã ainda escura pelo horário
de verão, o vento forte que cisma fazer barulho pelas brechas nas janelas da
sacada, que ora e outra dão um tom melancólico ao começo do dia são instantaneamente
esquecidas pelo despertar do rádio:
- ♫♪♪♫
“Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconderO que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou

E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã (...)”
O corpo resiste por algum tempo na cama, mas logo a
obrigação de levantar e escolher quem será o pastor do rebanho pelos próximos
quatro anos se faz necessário! E que necessidade...
Gonzaguinha teve tempo de terminar a
cantiga:
''Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração... "♫♪♫♪
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração... "♫♪♫♪
E desliguei o rádio com um mau humor absurdo. Lavei o rosto, mais
sonolento que acordado, escovei os dentes rápido como quem faz obrigado, e fiz.
Procurei o titulo de eleitor na imensa gaveta, tão pequena que abismava pela
grandeza da bagunça que suportava. Enfim, achei e segui rumo à obrigatoriedade democrática,
sim, contraditório!
Ao passar e escorregar duas ou mais
vezes no chão, ou melhor, no tapete de santinhos dos candidatos. Bom, se bem
pode ser meu chinelo que está velho? Bom, também pode ser que mundo anda
escorregadio? Então, consegui ficar em pé e de orelhas atentas para ouvir um
velho barbudo, com a voz rouca e dentes amarelos, balbuciar:
- Eu, vivi a ditadura, não podia
escolher em quem seria o prefeito... E blá, blá, blá, blá!
Deveria ter lutado pelo direito de
escolher não ser governado por ninguém, tiozão! E o outro, que com uma empresa
de porte médio, economicamente com algumas regalias, queria e proferia a
continuidade desses pássaros, que querem os voos de poucos e o restante rastejarem:
- Gente, está claro que esses de
esquerda querem que trabalhemos para os que não trabalham. Querem dividir. Onde
já se viu? Querem igualdade... E blá, blá, blá...
É patrão... Só você quer comer o
pão! Poder para poucos e poucos no poder. E muitos sem nada por já não terem
nada. E a vida segue, respiro e entro na seção 69 e etc. Voto. Livro-me da
obrigação...
Quero
saber é do futebol, galera está esperando, churrasco e cerveja gelada! Escolher
quem vai sair jogando é bem mais importante!
E assim,
vai que não vai!
É para
fingir que nada é sério? Que nada importa? Que a impunidade continuará? Que
ninguém presta? Que não a esperança? Avisa-me! Mas avisa mesmo apara eu jogar e
beber de primeiro de janeiro ao réveillon!
Cansou
Jão!
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