quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Papo de Quinta



 Jão, vai votar!


A manhã ainda escura pelo horário de verão, o vento forte que cisma fazer barulho pelas brechas nas janelas da sacada, que ora e outra dão um tom melancólico ao começo do dia são instantaneamente esquecidas pelo despertar do rádio:
- ♫♪♪♫
“Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou
Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã (...)”

O corpo resiste por algum tempo na cama, mas logo a obrigação de levantar e escolher quem será o pastor do rebanho pelos próximos quatro anos se faz necessário! E que necessidade...
            Gonzaguinha teve tempo de terminar a cantiga:

''Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração... "♫♪♫♪

            E desliguei o rádio com um mau humor absurdo. Lavei o rosto, mais sonolento que acordado, escovei os dentes rápido como quem faz obrigado, e fiz. Procurei o titulo de eleitor na imensa gaveta, tão pequena que abismava pela grandeza da bagunça que suportava. Enfim, achei e segui rumo à obrigatoriedade democrática, sim, contraditório!
            Ao passar e escorregar duas ou mais vezes no chão, ou melhor, no tapete de santinhos dos candidatos. Bom, se bem pode ser meu chinelo que está velho? Bom, também pode ser que mundo anda escorregadio? Então, consegui ficar em pé e de orelhas atentas para ouvir um velho barbudo, com a voz rouca e dentes amarelos, balbuciar:
            - Eu, vivi a ditadura, não podia escolher em quem seria o prefeito... E blá, blá, blá, blá!
            Deveria ter lutado pelo direito de escolher não ser governado por ninguém, tiozão! E o outro, que com uma empresa de porte médio, economicamente com algumas regalias, queria e proferia a continuidade desses pássaros, que querem os voos de poucos e o restante rastejarem:
            - Gente, está claro que esses de esquerda querem que trabalhemos para os que não trabalham. Querem dividir. Onde já se viu? Querem igualdade... E blá, blá, blá...
            É patrão... Só você quer comer o pão! Poder para poucos e poucos no poder. E muitos sem nada por já não terem nada. E a vida segue, respiro e entro na seção 69 e etc. Voto. Livro-me da obrigação... 
           Quero saber é do futebol, galera está esperando, churrasco e cerveja gelada! Escolher quem vai sair jogando é bem mais importante!
E assim, vai que não vai!
           É para fingir que nada é sério? Que nada importa? Que a impunidade continuará? Que ninguém presta? Que não a esperança? Avisa-me! Mas avisa mesmo apara eu jogar e beber de primeiro de janeiro ao réveillon! 
    Cansou Jão!

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